Virou
moda agora fazer troça do chamado ‘politicamente correto’. Toda idéia quando se
torna clichê perde sua força expressiva, torna-se alvo preferido do hipster
intelectual.
Na
verdade o politicamente correto foi uma estratégia muito inteligente – e
vitoriosa diga-se de passagem! – de grupos historicamente oprimidos, para lidar
com a opressão que se reverberava também na linguagem. A língua replica a
relação de poder social, por meio de brincadeiras, duplos sentidos, jogos de
palavras etc
Os
lingüistas descobriram que a linguagem é o maior instrumento de dominação
política que existe. O nosso falar não é neutro, como se supunha. Não é por
outro motivo, que uma simples palavrinha, ‘presidenta’, suscita tanta celeuma
hoje em dia; ela envolve ao mesmo tempo, tanto uma política partidária, como
uma política de gênero.
Hoje
esse hipster se volta contra o politicamente correto, e diz que ele
viola o direito constitucional de liberdade de expressão. O hipster
deseja ser avant-garde, mas na sua origem(do hipster) está o
retrô dos anos 40, talvez por isso insista em invocar a paleoliberdade de
expressão contra um uma construção política pós-estruturalista.
O
paradigma hipster institui o ‘quem fala o que quer, ouve o que não quer’, e
assim entramos numa espiral de violência discursiva, sem atentar para a
sensibilidade alheia, principalmente dos grupos socialmente oprimidos. É a grosseria intercultural.
É
muito fácil o emissor de uma mensagem dizer que seu texto não foi ofensivo.
Pimenta nos olhos dos outros é refresco. O discurso liberalista é muito
belicoso e acaba sendo o discurso do mais forte. Idéias políticas, sociais,
científicas, sim, devem ser sempre expressadas livremente. Mas quando há
referência ao cidadão, mormente àquele pertencente a grupo culturalmente segregado,
o cuidado e a sensibilidade lingüísticas só demonstram a boa e velha educação por
parte do interlocutor.
Nesse
sentido, acho muito mais adequado, pelo menos, para a sociabilidade na rede,
lançar mão do operador "gentileza gera gentileza". Não se trata de cinismo, nem de censura; acho
que, assim, é possível inclusive 'desarmar' o discurso.
Se o
alvo da mensagem pode se sentir ofendido é melhor não utilizar um determinado
termo. Isso é civilidade, do cidadão, do urbano, daquele que, etimologicamente,
vive na cidade.
Se cultural e historicamente sabemos que existem grupos que se sentem ofendidos com certas expressões é melhor não utilizá-las. A vida em sociedade nos impõe limites. Ando pensando em sugerir aos liberalistas que se mudem para o interior profundo da África. Lá poderão livremente tamborejar no peito seus brados de guerra politicamente incorretos.
Se cultural e historicamente sabemos que existem grupos que se sentem ofendidos com certas expressões é melhor não utilizá-las. A vida em sociedade nos impõe limites. Ando pensando em sugerir aos liberalistas que se mudem para o interior profundo da África. Lá poderão livremente tamborejar no peito seus brados de guerra politicamente incorretos.
7 comentários:
Se existe o politicamente correto, quem faz o papel de corregedor da política, ou de corregedor da cultura?
É o que eu penso, literalmente. A recente medalha não foi à toa. Um abraço. Cida Carvalho Liz.
Meu querido amigo Jésser Pacheco, vc., com sua sensibilidade, inteligência e bom senso refinadíssimos, é seu próprio Corregedor. Vc. nunca despejaria uma grosseria intercultural.
Então, se não existe uma instância coletiva, política, o que existe é apenas o individualmente correto, não o politicamente correto.
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