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domingo, 3 de fevereiro de 2013

TARZAN E A GENTILEZA








Virou moda agora fazer troça do chamado ‘politicamente correto’. Toda idéia quando se torna clichê perde sua força expressiva, torna-se alvo preferido do hipster  intelectual.


Na verdade o politicamente correto foi uma estratégia muito inteligente – e vitoriosa diga-se de passagem! – de grupos historicamente oprimidos, para lidar com a opressão que se reverberava também na linguagem. A língua replica a relação de poder social, por meio de brincadeiras, duplos sentidos, jogos de palavras etc

Os lingüistas descobriram que a linguagem é o maior instrumento de dominação política que existe. O nosso falar não é neutro, como se supunha. Não é por outro motivo, que uma simples palavrinha, ‘presidenta’, suscita tanta celeuma hoje em dia; ela envolve ao mesmo tempo, tanto uma política partidária, como uma política de gênero.

Hoje esse hipster se volta contra o politicamente correto, e diz que ele viola o direito constitucional de liberdade de expressão. O hipster deseja ser avant-garde, mas na sua origem(do hipster) está o retrô dos anos 40, talvez por isso insista em invocar a paleoliberdade de expressão contra um uma construção política pós-estruturalista.

O paradigma hipster institui o ‘quem fala o que quer, ouve o que não quer’, e assim entramos numa espiral de violência discursiva, sem atentar para a sensibilidade alheia, principalmente dos grupos socialmente oprimidos. É a grosseria intercultural.

É muito fácil o emissor de uma mensagem dizer que seu texto não foi ofensivo. Pimenta nos olhos dos outros é refresco. O discurso liberalista é muito belicoso e acaba sendo o discurso do mais forte. Idéias políticas, sociais, científicas, sim, devem ser sempre expressadas livremente. Mas quando há referência ao cidadão, mormente àquele pertencente a grupo culturalmente segregado, o cuidado e a sensibilidade lingüísticas só demonstram a boa e velha educação por parte do interlocutor.

Nesse sentido, acho muito mais adequado, pelo menos, para a sociabilidade na rede, lançar mão do operador "gentileza gera gentileza".  Não se trata de cinismo, nem de censura; acho que, assim, é possível inclusive 'desarmar' o discurso.

Se o alvo da mensagem pode se sentir ofendido é melhor não utilizar um determinado termo. Isso é civilidade, do cidadão, do urbano, daquele que, etimologicamente, vive na cidade.

Se cultural e historicamente sabemos que existem grupos que se sentem ofendidos com certas expressões é melhor não utilizá-las. A vida em sociedade nos impõe limites. Ando pensando em sugerir aos liberalistas que se mudem para o interior profundo da África. Lá poderão livremente tamborejar no peito seus brados de guerra politicamente incorretos.

7 comentários:

Jésser Pacheco disse...

Se existe o politicamente correto, quem faz o papel de corregedor da política, ou de corregedor da cultura?

Jésser Pacheco disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jésser Pacheco disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jésser Pacheco disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ige disse...

É o que eu penso, literalmente. A recente medalha não foi à toa. Um abraço. Cida Carvalho Liz.

Pepe Chaves disse...

Meu querido amigo Jésser Pacheco, vc., com sua sensibilidade, inteligência e bom senso refinadíssimos, é seu próprio Corregedor. Vc. nunca despejaria uma grosseria intercultural.

Jésser Pacheco disse...

Então, se não existe uma instância coletiva, política, o que existe é apenas o individualmente correto, não o politicamente correto.